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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Medo da vida (parte 1 a 7) - OSHO

palavras de Osho
Você pode tornar tudo positivo somente se você tornar-se positivo em relação à vida. Mas nós não somos positivos em relação à vida. Por quê? Por que nós não somos positivos em relação à vida? Por que nós somos negativos? Por que essa luta constante? Por que nós não podemos ter uma entrega total à vida? Qual é o medo?

Você pode não ter observado: você tem medo da vida – muito medo da vida. Pode soar estranho dizer que você tem medo da vida, porque comumente você sente que tem medo da morte, não da vida. Essa é a observação usual, que todo mundo tem medo da morte. Mas eu lhe digo: você tem medo da morte somente porque tem medo da vida. Aquele que não tem medo da vida não terá medo da morte.

Por que nós temos medo da vida? Três razões. Primeira: seu ego só pode existir se ele for contra a corrente. Flutuando corrente abaixo, seu ego não pode existir. Seu ego só pode existir quando ele luta, quando ele diz "não". Se ele disser "sim", sempre "sim", ele não poderá existir. O ego é a causa básica de dizer "não" a tudo.

Olhe os seus modos, como você se comporta e reage. Olhe como o "não" vem imediatamente à mente, e como o "sim" é muito, muito difícil – porque com o "não" você existe como um ego. Com o "sim", a sua identidade fica perdida, você se torna uma gota no oceano. Não há nenhum ego no "sim"; eis por que é tão difícil dizer sim – muito difícil.

Você está me entendendo? Se você está indo contra a corrente, você sente que você existe. Se você simplesmente se entrega e começa a flutuar com a corrente aonde quer que ela o conduza, você não sente que você existe. Então, você se tornou parte do rio. Esse ego, esse pensar-se isolado como um "eu", cria a negatividade à sua volta. Esse ego cria as ondulações de negatividade.

Medo da vida (parte 2)

Em segundo lugar, a vida é desconhecida, imprevisível, e a sua mente é muito estreita: ela quer viver no conhecido, no previsível. A mente está sempre com medo do desconhecido. Há uma razão: é porque a mente consiste no conhecido. Tudo o que você conheceu, experimentou, aprendeu, a mente consiste nisso.

O desconhecido não faz parte da mente. A mente está sempre com medo do desconhecido, o desconhecido perturbará a mente; assim, a mente fica fechada para o desconhecido. Ela vive em sua rotina, ela vive em um padrão. Ela se move em trilhas determinadas, trilhas conhecidas. Ela vai girando, girando, exatamente como um disco de gramofone. Ela tem medo de se mover para o desconhecido.

A vida sempre está se movendo para o desconhecido, e você tem medo. Você quer que a vida ande de acordo com a sua mente, de acordo com o conhecido, mas a vida não pode segui-lo. Ela sempre se move para o desconhecido. Eis porque nós temos medo da vida e sempre que nós temos uma oportunidade nós tentamos matar a vida, nós tentamos fixá-la.

A vida é um fluxo. Nós tentamos fixá-la porque com aquilo que é fixo a previsão é possível.


Medo da vida (parte 3)

Se eu amo alguém, imediatamente minha mente começará a funcionar no sentido de como me casar com essa pessoa, porque o casamento fixa as coisas. O amor é um fluxo, o amor não pode ser previsível.

Ninguém sabe aonde ele conduzirá, ou se ele conduzirá a algum lugar. Ninguém sabe! Ele está flutuando com a correnteza e você não sabe aonde a correnteza está indo. Ele pode não estar presente no dia seguinte, no próximo momento...

Você não pode ter certeza quanto ao próximo momento. Mas a mente quer certeza, e a vida é insegurança. Porque a mente quer certeza, a mente é contra o amor. A mente é pelo casamento, porque o casamento é uma coisa fixa. Agora você tem as coisas fixas; assim, agora o fluxo está quebrado. Agora, a água não está fluindo – ela se tornou gelo. Agora, você tem alguma coisa morta; você pode prever.

Somente coisas mortas são previsíveis. Quanto mais alguma coisa está viva, mais ela é imprevisível. Ninguém sabe aonde a vida irá.

Medo da vida (parte 4)

Assim, nós não queremos a vida, queremos coisas mortas. Eis por que nós continuamos possuindo coisas. É difícil viver com uma pessoa; é fácil viver com coisas. Assim, nós continuamos possuindo coisas e coisas e coisas... É difícil viver com uma pessoa. E se nós temos que viver com uma pessoa, nós tentaremos fazer dessa pessoa uma coisa, nós não podemos permitir a pessoa.

Uma esposa é uma coisa, um marido é uma coisa. Eles não são pessoas, eles são coisas fixas. Quando o marido chega em casa, ele sabe que a esposa estará lá, esperando. Ele sabe, ele pode prever. Se ele quiser fazer amor, ele pode fazer – a esposa estará disponível. A esposa se torna uma coisa.

A esposa não pode dizer "não, hoje não estou com vontade de fazer amor". Não se supõe que esposas digam tais coisas. Não está com vontade!? Não se supõe que elas tenham vontade. Elas são instituições fixas – institutos. Você pode confiar no instituto; você não pode confiar na vida. Dessa forma, nós transformamos pessoas em coisas.

Olhe para qualquer relacionamento. No começo é um relacionamento de "eu" e "tu", mas, mais cedo ou mais tarde, ele se torna um relacionamento de "eu" e "aquilo". O "tu" desaparece e, então, nós continuamos esperando determinadas coisas. Nós dizemos: "Faça isto!" Você terá de fazê-lo. É uma obrigação; aquilo tem de ser feito mecanicamente. Você não pode dizer "eu não posso fazer isso".

Essa fixidez é o medo da vida.

Medo da vida (parte 5)
A vida é um fluxo; nada pode ser dito sobre a vida. Eu o amo neste momento, mas, no momento seguinte, o amor pode desaparecer. No momento anterior ele não estava presente; neste momento, ele está.

E não é por minha causa que ele está presente, ele simplesmente aconteceu. Eu não pude forçá-lo a estar presente. Ele apenas aconteceu e aquilo que aconteceu pode não acontecer em outro momento, você não pode fazer nada. No momento seguinte, ele pode desaparecer; não há certeza quanto ao momento seguinte.

Mas a mente quer certeza; assim, ela transforma amor em casamento. A coisa viva se torna morta. Então, você pode possuí-la, então, você pode confiar nela. No dia seguinte também haverá amor. Esse é o absurdo de toda a coisa: você terá matado a coisa a fim de possuí-la e, então, você nunca pode desfrutá-la, porque ela não existe mais, ela está morta.

Para que você pudesse possuir a esposa, ela foi morta. A amada se torna uma esposa e agora você espera que a esposa se comporte como a amada. Isso é absurdo, a esposa não pode se comportar como a amada. A amada tinha vida, a esposa está morta. A amada era um acontecimento, a esposa é uma instituição.

E como a esposa não está se comportando como a amada, então, você diz: "Você não me ama? Você me amava antes". Mas essa não é a mesma pessoa. Essa não é nem mesmo uma pessoa, é uma coisa. Primeiro você a matou para possuí-la e, agora, você quer a vivacidade dela. Então, a miséria toda é criada.

Nós temos medo da vida porque a vida é um fluxo. A mente quer certeza. Se você realmente quer estar vivo, esteja pronto para ser inseguro. Não há nenhuma segurança e não há modo de se criar segurança!

Há somente um modo: não viva, então, você estará seguro. Assim, aqueles que estão mortos estão absolutamente seguros. Uma pessoa viva é insegura. A insegurança é o próprio núcleo central da vida, mas a mente quer segurança.

Medo da vida (parte 6)

Em terceiro lugar, na vida, na existência, há uma dualidade básica. A existência existe como dualidade, e a mente quer escolher uma parte e negar a outra. Por exemplo: você quer ser feliz, você quer prazer; você não quer a dor. Mas a dor faz parte do prazer, é o outro aspecto dele.

É uma moeda. De um lado está o prazer, do outro lado está a dor. Você quer prazer, mas você não sabe que, quanto mais você quer o prazer, mais dor se seguirá; e quanto mais você se torna sensível ao prazer, mais você se torna sensível à dor também.

Assim, uma pessoa que quer prazer deve estar pronta para aceitar a dor. É exatamente como os vales e as montanhas. Você quer os picos, as montanhas, mas você não quer os vales - assim para onde irão os vales? E sem os vales, como pode haver os picos? Sem os vales, não pode haver nenhum pico. Se você ama os picos, ame os vales também. Eles se tornam parte do destino.

A mente quer uma coisa e ela nega a outra, e a outra faz parte daquilo. A mente diz: "a vida é boa, a morte é ruim". Mas a morte é uma parte - a parte do vale - e a vida é a parte do pico. A vida não pode existir sem a morte.

A vida existe por causa da morte. Se a morte desaparecesse, a vida desapareceria, mas a mente diz "eu só quero a vida, eu não quero a morte". Então, a mente se move em um mundo de sonho, que não existe em lugar nenhum; e ela começa a lutar contra tudo, porque, na vida, tudo está relacionado com o oposto. Se você não quer o oposto, começa uma luta.

Uma pessoa que compreende isso - que a vida é dualidade - aceita ambas. Ela aceita a morte, não como contra a vida, mas como parte dela, como a parte do vale. Ela aceita a noite como a parte vale do dia. Em um momento, você se sente alegre; no momento seguinte você está triste.

Você não quer aceitar o momento seguinte - esta é a parte do vale. E quanto mais elevado o pico de alegria, mais profundo será o vale, porque vales mais profundos são criados somente por picos mais elevados. Assim, quanto mais alto você for, mais baixo você cairá. E é exatamente como ondas que sobem; depois, vem uma parte do vale.
Medo da vida (parte 7 - final)
Compreensão significa estar consciente desse fato - não somente estar consciente, mas ter uma profunda aceitação do fato, porque você não pode ir para longe do fato. Você pode criar uma ficção... E nós estamos criando ficções há séculos.

Nós colocamos o inferno em algum lugar bem no fundo e o paraíso em algum lugar bem alto. Nós criamos uma divisão absoluta entre os dois, o que é tolice, porque o inferno é a parte vale do paraíso. Ele existe com o paraíso; ele não pode existir à parte.

Essa compreensão o ajudará a ser positivo; então, você será capaz de aceitar tudo. Por "positivo" eu quero dizer que você aceita tudo, porque você sabe que não pode dividir a existência.

Eu deixo a respiração entrar e, imediatamente, tenho de deixá-la sair. Eu inalo e, depois, exalo. Se eu apenas inalasse e não exalasse, morreria; ou se eu somente exalasse e não inalasse, então também morreria, porque inalar e exalar são partes de um processo, de um círculo. Eu posso inalar, somente porque eu exalo. Ambos estão juntos e não podem ser divididos.

É isso o que é um homem liberado - não dividido. Isso acontece se essa compreensão lhe chegar. Eu chamo liberado, iluminado, um homem que aceita a própria dualidade da existência.

Então, ele é positivo.

Então, tudo o que acontece é aceito.

Então, ele não tem nenhuma expectativa.

Então, ele não faz exigências à existência.

Então, ele pode flutuar com a correnteza.

Osho, em "O Livro dos Segredos"
Imagem por dalobeee

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